junho 25, 2004

Destino de Linda

Apesar do nome, linda era uma menina muito feia. Tanto que seus pais morreram por causa dessa feiúra. Primeiro foi o seu pai, que teve um infarte ao encontrá-la à noite na cozinha. Dois anos depois foi a vez da sua mãe que levou um susto e caiu da escada. Dessa vez, além de entender sua vó fez questão de lhe explicar. Muito complexada, Linda passou a se excluir do âmbito social. Ela crescia e a feiúra aumentava junto. Linda chegou a passar no vestibular mas foi proibida de entrar na faculdade. Seu único passatempo na vida eram as diversas manias que desenvolveu e a mania mais forte era sobre seu horário de almoço, ela sempre almoçava no mesmo horário. Quando não conseguia ficava numa agonia sem tamanho. Sem emprego e sem estudo, ela se sentia perdida na vida, até que passando por uma festinha de rua, um senhor de 40 anos muito bêbado se engraçou por ela e deu-lhe o primeiro beijo. Do beijo pro motel foi um pulo... Mas Linda só tinha dezessete anos e o homem era casado. Três meses depois da primeira vez da maltrapilha, ela descobriu que estava grávida e ligou para o pai de seu filho. Ele, devidamente arrependido, pois além dela ser muito feia tinha medo de perder sua esposa, fez um acordo com ela: Daria-lhe um emprego no banco em que ele era gerente e ela fingiria que nada daquilo havia acontecido. Linda aceitou e desde esse dia sua vida se transformou... Ela se empenhou ao máximo no emprego novo e o único empecilho que ela tinha era a hora do almoço irregular, felizmente ela sempre conseguia dar um jeitinho para almoçar no mesmo horário. Um dia, uma senhora muito desconfiada entrou no banco com três sacolas cheias de dinheiro miúdo. A bancária escolhida para a contagem foi a própria Linda. Desesperada começou a contar, e a fome foi apertando, e nada de acabar... Linda foi ficando agoniada... e contava, contava... e já passava de duas horas do seu horário quando ela acabou de contar finalmente o montante. Linda, saiu pra almoçar, mas o estrago já havia sido feito. Ela estava louca. Passou por uns trapos que um mendigo havia abandonado e roubou-lhe o cajado. Rodou o quarteirão, e ao virar a esquina viu a senhora que a fez perder o almoço correndo. Quando ela passou deu-lhe uma cajadada na cabeça. Dezenas de mendigos estavam lá na frente de Linda, e apesar da feiúra foi aclamada como heroína por eles. Linda nunca mais voltou ao emprego, nem nunca mais viu sua filha. Passou a viver com os mendigos do Centro e até hoje, se no horário do almoço ela não consegue esmolas para almoçar, ela corre atrás de alguém com seu cajado na mão.

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